domingo, 20 de outubro de 2013

Documentação Escrita VI

Caderno de fontes da professora Renata Vereza. Parte I.

ROMANOS E GERMÂNICOS


Império Romano

"É preciso que sejas informado do de teu procurador (...) com quase todos os arrendatários (...) mandou prender e maltratar alguns de nós, mandou acorrentar outros, e bater com varas e bastões em alguns que no entanto eram cidadãos romanos.

Isto nos obriga, miseráveis que somos, a suplicar de novo tua Divina Providência.

É porque nós te pedimos, imperados muito sagrado, que nos socorra; que seja suprimido o direito dos procuradores e arrendatários de aumentarem em detrimento dos colonos as taxas sobre as culturas, as corveias e as prestações de serviço. Assim, pela bondade de Tua majestade, nós, teus camponeses, nascidos e criados em teus domínios, não mais seremos atormentados pelos arrendatários das terras imperiais."


Visão de um romano sobre os hunos

"(...) O povo dos hunos, pouco conhecidos pelos antigos monumentos, (...) excede todos os modos de ferocidade (...) Todos eles tem membros compactos e firmes, pescoços grossos, e são tão prodigiosamente disformes e feios que os poderíamos tomar por animais bípedes ou pelos touros debastados em figuras que usam nos lados das pontes.

Tendo porém o aspecto de homens, embora desagradáveis, são rudes no seu modo de vida, de tal maneira que não tem necessidade nem de fogo nem de comida saborosa (...)"

(Amimianus Marcellinus, liv. XXXi, 2, 1 a 11)


Saques a Roma feitos pelos visigodos em 410

"E assim, no ano 1164 depois da fundação da cidade, foi-lhe feito um ataque por Alarico; embora a memória deste fato ainda seja recente, nenhuma pessoa que veja a multidão dos romanos e que os oiça falar admitirá, como eles próprios dizem, que alguma coisa tenha acontecido, salvo se, por acaso, tomar conhecimento do fogo pelas ruínas que ainda existem (...)"

(Paulo Orósio, Historiarum adversos Paganos)


Sobre os Alanos

"Quase todos os alanos são altos e formosos, com os cabelos quase louros e um olhar perturbador, ligeiros e velozes no uso das armas (...) roubando e caçando, andam de um lado para o outro (...)

Assim como para os homens sossegados e plácidos o repouso é agradável, assim eles encontram prazer no perigo da guerra, É considerado feliz aquele que sacrificou sua vida na batalha, enquanto àqueles que envelheceram e deixaram o mundo por morte fortuita atacam com terríveis censuras de degenerados e covardes; e não existem nada mais que se orgulhem do que matar um homem (...)

Não se vê entre eles nenhum templo, nenhum lugar sagrados, (...) mas com um ritual bárbaro enterram no chão uma espada desembainhada e adoram-na reverentemente, como ao seu Marte, a divindade principal destas terras por onde vagueiam.

Ignoram o que seja servidão, tendo nascidos todos de sangue nobre, e mesmo agora escolhem como chefe aqueles que se distinguem na experiência cotidiana."

(Ammianus Marcellinus)


Catolicismo versus Paganismo

"Ora, o que direis, vos que defendeis as Lupercálias e aconselhais a sua realização? Vós próprios tornais seu culto vil e sua solenidade vulgar as esconder-vos. Se a degradação das Lupercálias nos valeu adversidade, a responsabilidade é vossa, pois estas festas que considerais salutar é celebrada com extrema negligência, igualando-vos àqueles que as celebravam os ancestrais do vosso paganismo. Naquele tempo os nobres corriam e as matronas despidas recebiam golpes em públicos. Vois sois como pessoas comuns e vulgares, homens de baixa condição (...)"

(Papa Gelásio I, 492-496)


REINOS GERMÂNICOS


Sobre a Gália após a ocupação germânica

"Extinguindo-se a cultura das letras, definhando nas cidades das Gálias, enquanto o bem e o mal igualmente aí se acometiam, que aí se desencadeava a ferocidade dos povos ou o furor dos reis, que as igrejas eram atacadas pelos heréticos e defendiam pelos católicos, que a fé cristã, fervorosa ainda no maior número, arrefeciam alguns, que as igrejas eram enriquecidas por homens piedosos e despossadas por ímpios, e que não se podia encontrar um único gramático conhecedor da dialética para descrever todas essas coisas quer em prosa, quer em verso, carpindo-se disso várias vezes a maioria dizendo: 'desgraçado seja nosso tempo, pois o estudo das letras pereceu entre nós e já não se encontra ninguém que possa traduzir por escrito os acontecimentos presentes', decidi-me, movido por estas queixas e outras semelhantes, repetidas todos os dias, transmitir aos tempos vindouros a memória do passado."

(Gregório de Tours, Historiae Ecclesiasticae Francorum, século VI)


Lei visigótica (século VI)

A solicita preocupação de um príncipe está cumprida quando foram providenciados os benefícios para futura utilidade dos povos. Nem a ingênita liberdade do príncipe deve deixar de exultar quando, quebradas as forças da antiga lei, tiver ido abolida a sentença que pretende impedir sem razão o casamento de pessoas que são iguais por dignidade e linhagem. E por isso, removida a sentença da antiga lei (...) sancionamos esta lei que há de valer para sempre: que Godo possa, se quiser, ter romana por mulher e que Goda possa casar com um romano (...) e que o homem livre possa casar com qualquer mulher livre (...) obtido o solene consenso dos parentes e a licença do Conde (...)"

(Corpus Iuris Germanici Antiqui, pp. 465-466)


Artigo do Código Burgúndio colidido por volta de 474-516

"em nome de Deus, no segundo ano do reinado do nosso senhor e muito glorioso rei Segismundo Gundobado, este livro dizendo respeito às leis passadas e presentes e devendo ser conservado por todos os tempos futuros foi dado no quarto dia antes das Calendas de Abril em Lugdunum.

2- Por isso todos os administradores e juízes deverão daqui para o futuro fazer julgamentos entre burgúndios e romano segundo as nossas leis, as quais foram compostas e emendadas por um comum acordo, para que ninguém possa esperar ou presumir receber qualquer coisa à maneira de recompensa ou prêmio de nenhuma das partes (...)"

(Monumenta Germaniae Historica, legum, t. III, pp. 526-527)


A conversão dos visigodos

(ano de 587)
"No décimo mês do primeiro ano do seu reinado, Recaredo, com ajuda de Deus, tornou-se católico e reuniu-se católico e reuniu-se com os sacerdotes da seita ariana num sapiente colóquio, fazendo com que se convertessem à fé católica, mais pelo poder da razão do que por seu mando, levando todo o povo dos godos à unidade e paz da Igreja cristã."

(ano de 590)
" Um santo sínodo de bispos de toda a Espanha, Gália e Galiza, (...) foi reunido por ordem do príncipe Recaredo na cidade de Toledo. Neste sínodo tomou parte o notável e cristianíssimo Recaredo e o processo de sua conversão e o da confissão de todos os sacerdotes, assim como do povo godo foi escrito por suas mãos em um livro (...) No entanto, como dissemos, o notável rei Recaredo tomou parte no santo concílio, renovando no nosso tempo, pela ilustre presença, a antiga direção de Constantino durante o sínodo de Niceia (...)"

(Abade de Biclara, João, séc. VI)


MUÇULMANOS


A conquista de Damasco pelos muçulmanos

"Os habitantes de Damasco instalaram-se nas fortificações e fecharam as portas da cidade, Khâlid ibn-al-Walîd, à cabeça de uns 5000 homens (...) acampou junto [de uma das portas]. O Bispo que tinha aprovisionado Khâlid com alimentos no princípio do cerco havia-se instalado nas muralhas. Um dia Khâlid chamou-o e, quando ele chegou, cumprimentou-se e ambos conversaram. Noutro dia o bispo disse: 'Abu-Sulaimân, a tua posição está melhorando e tens uma promessa em relação a mim; façamos um acordo para esta cidade.' Imediatamente Khâlid pediu um tinteiro e pergaminho e escreveu:

'Em nome de Allah, (...) Isto é o que Khâlid concederá aos habitantes de Damasco se entrar dentro dela: promete dar-lhes segurança pelas suas vidas, propriedades e igrejas. As muralhas da cidade não serão demolidas, nem nenhum muçulmano será aquartelado nas suas casas. Portanto, damos-lhes o pacto de Allah e a preteção de seu profeta, dos califas e dos crentes. Enquanto pagarem o imposto, nada de mau lhes acontecerá.'

Uma noite, um amigo do Bispo veio até Khâlid e informou-o de que era noite de festa para os habitantes da cidade, os quais por estarem ocupados (...) deixaram-na [a porta] sem guarda. Sugeriu então que Khâlid procurasse uma escada. Certos ocupantes do convento junto o qual ele tinha acampado trouxeram-lhe duas escadas pela quais alguns muçulmanos treparam (...) os muçulmanos (...) abriram a porta.

(...) isto fez com que os combatentes gregos acorressem a esse lado e dessem um violento combate aos muçulmanos. Contudo, por fim, os gregos fugiram."

(texto de um cronista persa do século IX)


Extensão do império muçulmano no último terço do século X

"O comprimento do Império do Islã nos nossos dias estende-se desde os limites de Farghana (Pérsia), passando através do Khurasan (Média), al-Jibal, o Iraque e a Arábia até a costa do Iêmem, o que constitui uma viagem de quatro meses; quanto a largura, tome início na terra de Rum (império Bizantino), passando através da Síria, Mesopotâmia, Iraque, Pars e Kirman, até o território de al-Masunra na costa do mar de Fars, o que são quase quatro meses de viagem. Na declaração anterior sobre a extensão do Islã omiti a fronteira do Magreb e o al-Andaluz, por serem como a manga de um vestido. Para Oriente e Ocidente de Magreb não dá islã."

(Ibn-Hawqal. In: Arnold, T. W. - El legado del islam. Madrid: Pegaso, 1947)


CAROLÍNGIOS

Sobre a relação entre Carlos Magno e o Papado

"Assim como fiz um acordo com o Santíssimo predecessor [o papa anterior] de vossa Santa Paternidade, desejo estabelecer com vossa Santidade um pacto inviolável de fé e caridade, de forma que a graça divina obtida pelas preces da vossa Santidade apostólica e a vossa benção apostólica me possam seguir por toda a parte, enquanto, se Deus quiser, a Santíssima Sé da Igreja Romana estará sempre defendida pela nossa devoção. Na verdade é nosso dever, com auxílio da divina piedade, defender por toda a parte com as armas a Santa Igreja de Cristo, tanto das incursões dos pagãos como das devastações do infiel, e fortificá-la no exterior e no interior pela profissão da fé católica. É vosso dever (...) auxiliar as nossas armas de forma que o povo cristão obtenha a vitória sobre o inimigo do seu Santo nome (...)"

(Carta de Carlos Magnos ao Papa Leão III, século VIII)


Sobre o Renascimento Carolíngio

"(...) venerado mestre Albino, peço-te que me permitas interrogar-te sobre os preceitos da arte retórica: na verdade recordo-me de me teres dito uma vez que a força desta arte reside toda em versar sobre problemas públicos. Ora, como bem sabes, decido às ocupações do reino e aos cuidados do palácio, acontece-nos de estar constantemente ocupado com problemas deste tipo e parece ridículo desconhecer os preceitos de uma arte que nos envolve necessariamente nas nossas ocupações cotidianas."

(Alcuíno. Diálogos de retórica e virtudes, séculos VIII-IX)


Sociedade Trinitária

"O povo celeste forma, portanto, vários corpos e é à sua imagem que se encontra organizado o povo da terra (...)

A estes, os religiosos, esta lei, a lei divina clemente interdita qualquer vil ocupação mundana. Não sulcam a terra; não caminham atrás dos bois (...) Mas devem purificar sua alma e o seu corpo; honrar-se pelos seus costumes e velar os dos outros. A lei eterna de deus ordena-lhes, pois, que sejam assim sem mancha, declara-os libertos de toda a condição servil.

(...) A sociedade dos fiéis forma um só corpo, mas o Estado compreende três, porque a outra lei, a lei humana, distingue duas outras classes: com efeito, nobres e servos não são regidos pelo mesmo estatuto (...) os nobres tem o privilégio de não suportar o constrangimento de nenhum poder. São os guerreiros, os protetores das igrejas, os defensores do povo, dos grandes como dos pequenos, enfim, de todos, e asseguram ao mesmo tempo sua própria segurança. A outra classe é a dos servos: esta classe infeliz apenas possui algo à custa do seu penar (...) Dinheiro, vestuário, alimentação, os servos fornecem tudo a toda a gente. Nem um só homem livre poderia subsistir sem seus servos.

A casa de Deus, que acreditam una, está portanto dividida em três: uns oram, outros combatem, outros, enfim, trabalham. Esta três partes que coexistem não suportam ser separadas; os serviços prestados por uma são a condição doas obras das outras duas; cada um por vez encarrega-se de aliviar o conjunto (...) assim a lei pode triunfar e o mundo gozar da paz."

(Adalberon de Laon, 1020)

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